sábado, 9 de fevereiro de 2013

O livro de Mirdad



 "É nesse Silêncio que espero que vagueis, para que possais abandonar a vossa pele velha e apertada e possais andar sem grilhões, irrestrito.


Para ele almejo que leveis os vossos cuidados, receios, paixões e desejos, vossas invejas e vossas luxúrias, para que as possais ver desaparecer uma a uma, libertando, assim, os vossos ouvidos dos seus gritos incessantes e livrando os vossos flancos da dor de sua afiada espora.

É ali que desejo que jogueis os vossos arcos e flechas deste mundo, com os quais esperais caçar alegria e satisfação e na realidade, só caçais o desassossego e a tristeza.

É ali que, espero, vós rastejeis para fora da tenebrosa e sufocante concha do eu, para a luz e o ar livre do EU.

É este o Silêncio que vos recomendo, e não um mero descanso de vossas línguas cansadas de tagarelar.

É este o Silêncio fecundo da Terra que vos recomendo, e não o apavorante silêncio do criminoso e do velhaco.

O silêncio paciente da galinha que choca é que vos recomendo, e não o  impaciente cacarejar de sua irmã que bota. Aquela, se mantém quieta durante vinte e um dias e espera o milagre debaixo de seu fofo peito e de suas macias asas. A outra, salta do ninho e cacareja loucamente, anunciando que pôs um ovo.

Cuidado com a glória cacarejante, companheiros. Assim como silenciais a vossas vergonhas, silenciai também a vossas glórias, pois a glória cacarejante é pior que a vergonha em silêncio e a virtude apregoada é pior do que a iniquidade muda.

Evitai o demasiado falar. Em cada mil palavras pronunciadas, às vezes só há uma única que verdadeiramente é necessário pronunciar. 

As restantes só servem para nublar a mente, entupir o ouvido, cansar a língua e cegar o coração.

Como é difícil dizer a palavra que realmente deve ser dita!

Em cada mil palavras que se escrevem, às vezes só há uma, unicamente uma, que verdadeiramente é necessário escrever! 

As restantes são somente tinta e papel desperdiçados e minutos aos quais  se deu pés de chumbo, em vez de asas de luz.

Como é difícil, oh! como é difícil escrever a palavra que realmente deve ser escrita!"

      O livro de Mirdad 

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