sexta-feira, 13 de setembro de 2013

O Grande Silêncio



"O Grande Silêncio" é o primeiro filme sobre a vida interior da Grande Chartreuse, casa-mãe da Ordem dos Cartuxos, uma meditação silenciosa sobre a vida monástica. Dezassete anos depois de ter pedido autorização para filmar no mosteiro, é dada autorização para entrar ao realizador, que filmará a vida interior dos monges cartuxos. Sem música à excepção dos cânticos do mosteiro, sem entrevistas, nem comentários, ou artifícios. Evocam-se unicamente a passagem do tempo, das estações, os elementos repetidos incessantemente durante o dia ou as orações. Um filme sobre a presença do absoluto e a vida de homens que dedicam a sua existência a Deus. O filme ganhou os Prémios de Melhor Documentário no Festival de Sundance e nos Prémios Europeus do Cinema.


Realizador Philip Gröning

"SÓ EM COMPLETO SILÊNCIO SE COMEÇA A ESCUTAR"

A vocação do silêncio


José Luís Peixoto penetrou no praticamente inacessível mundo de contemplação do Convento da Cartuxa. Ali, dez monges vivem em isolamento total, movidos pela fé.

Caminhava com o prior ao longo dos claustros quando os sinos começaram a tocar. A dissolverem-se no céu ou a retinirem nas paredes de pedra, chamavam para as vésperas e, longamente, acompanharam-nos até à entrada da igreja. A tarde dobrava o ponto em que o calor se transformava em calma, primavera de Deus. No interior da igreja, era fresco o eco da lonjura. Quase indistinto dos objetos e das imagens, imóvel, sentado, com o capuz a cobrir-lhe a cabeça, estava um monge velho, curvado. O prior apontou-me um lugar, fez-me gesto para esperar ali e saiu. O monge e eu ficamos a respirar. Foi então que o silêncio começou.

Calcular a passagem do tempo dentro do silêncio é comparável a contar segundos pela chama de uma vela ou por um abraço. Semelhante a estes dois exemplos, também o silêncio transporta um sentido imperturbável que é maior do que o tempo que pode ser medido. Como se acontecesse noutro lugar, como se ignorasse os minutos e, assim, lhes subtraísse toda a força da sua importância. O silêncio não se deixa transformar por horas, dias ou séculos. Aquilo que o silêncio era em 1084, quando São Bruno fundou a Ordem da Cartuxa, continua a ser, hoje, o silêncio

Não sei quantos minutos passaram até começarem a chegar monges e o prior entre eles. Os passos no estrado de madeira, o som de encontrarem o seu lugar, de tirarem os livros enormes e de os abrirem. E ninguém dirigia a atenção para fora daquilo que estava a fazer, ninguém fazia um gesto desnecessário, ninguém procurava o olhar de ninguém. As vésperas são o último serviço litúrgico no dia de um monge cartuxo. O primeiro tem início à meia-noite e, na semi-escuridão da capela, dura cerca de duas horas e meia. São as matinas. Dividem o sono dos cartuxos, que dormem entre as oito e trinta e um pouco antes da meia-noite, voltando depois a dormir entre as três e as seis e meia da manhã. Às oito, inicia-se a missa, que dura cerca de uma hora. Nesses três momentos diários, sem acompanhamento instrumental, apenas voz, os monges cartuxos cantam. Naquele fim de tarde, quando todos estavam prontos, quando chegou o instante, o prior começou a cantar. Era quinta-feira, cantaram-se os salmos das quintas-feiras, 138, 139 e 140. Em gregoriano, um dos lados da igreja cantava um verso, o outro lado da igreja respondia com o seguinte. Encostados a paredes opostas, virados uns para os outros, de cabeça baixa, coberta pelo capuz branco do hábito, com o rosto fixo nas páginas do livro, os monges cantavam em português. Na vibração das vozes, dentro da sua mistura coletiva, era possível distinguir-se os erres suaves do monge californiano e, noutras vezes, os erres mais rasgados dos monges espanhóis.


O Convento de Santa Maria Scala Coeli, em Évora, conhecido como Convento da Cartuxa, único convento ativo desta ordem em Portugal, é a casa de sete monges espanhóis, dois portugueses e um norte-americano. Além destes, o convento recebe um número variável de aspirantes. A língua comum é o português, que, neste caso, não é tanto uma língua de falar, mas é sobretudo uma língua de ler, de pensar ou, mais ainda, é uma língua de orar. A Cartuxa é uma ordem contemplativa: entre os seus princípios fundamentais encontram-se a oração, a clausura, o silêncio e a solidão.

José Luís Peixoto - na Cartuxa de Évora

Chove. Há Silêncio


Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva
Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego...

Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece...

Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente...

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"

Silêncio



- entre mim e o meu silêncio há gritos de cores estrondosas
entre mim e o meu silêncio há gritos de cores estrondosas
e magias recortadas dos sonhos que acontecem naturalmente.
eu sou cama onde me deito, todas as noites diferente,
eu sou o sorriso estridente dos pássaros no céu todo,
eu sou o mar, o oceano velho a abrir a boca numa
gruta que assusta as crianças e os homens que conhecem
o mundo. eu sou o que não devia e rio, rio,
rio, porque sou puro, porque sou um pouco da alegria,
porque mil mãos e dez mil dedos me percorrem o corpo
e me beijam. entre mim e o meu silêncio há uma
confusão de equívocos que não entendo e não admito.
sou arrogante, porque sou do país em que inventaram
a arrogância. sou miserável. que sei eu? sou um viajante
com destino traçado, como o fumo deste cigarro que
desaparece indeciso e já esqueceu de onde veio. e rio,
rio, rio, perdido e desalmado, de dentes sujos e quase
doente, porque minha é esta esperança e esta vontade
de nascer cada manhã, em cada rosto, em cada
fósforo aceso, em cada estrela. rio, rio, rio, porque meu
é o amor e o luto e a fome e todas as coisas
que fazem esta vida que não entendo e persigo.
eu sou um homem vivo a sentir cada pedra,
eu sou um homem vivo a sentir cada montanha,
eu sou um homem vivo a sentir cada grão de areia.
desordenadamente, eu sou alguém que é eu sem o saber,
entre mim e o meu silêncio há um desentendimento
esculpido nas flores e nas nuvens, rio, rio, rio,
eu sou a vida e o sol a iluminar-me.

- como não tenho lugar no silêncio onde morrem as gaivotas
como não tenho lugar no silêncio onde morrem as gaivotas,
despeço-me no oceano e deixo que o céu me conheça.
talvez a serenidade possa ser as minhas mãos a serem uma
brisa sobre a terra e sobre a pele nua de uma mulher.
esse dia, esperança de amanhã, poderá chegar e estarei dormindo.
hoje, sou um pouco de alguma coisa, sou a água salgada
que permanece nas ondas que tudo rejeitam e expulsam
na praia. as gaivotas sobrevoam o meu corpo vivo. os meus
cabelos submersos convidam o silêncio da manhã, raios de sol atravessam
o mar tornados água luminosa. aqui, estou vivo e sou alguém 
muito longe.

Poemas extraídos da obra: A Criança em Ruínas
José Luís Peixoto

Orações e Poemas


“Orações e poemas são a mesma coisa:
palavras que pronunciamos a partir do silêncio,
pedindo que o silêncio nos fale.”


Rubem Alves

Silêncio


Palavras que não se soltam,
Num silêncio sufocante,
Busco as letras que vacilam,
Num mutismo acutilante.
Procuro o ser que não sendo,
Insiste em Ser, todavia,
Nesta (in)certeza vivendo,
Incandescente agonia.
Palavras que não se soltam,
Em sílabas agonizantes,
Caminham, correm, tropeçam,
Em murmúrios sibilantes.
Procuro ver-te, não vendo,
Nesta (in)grata cegueira,
Amar-te, amar mal sabendo,
Numa apagada fogueira.
Palavras que não se soltam,
Em gemidos latejantes,
Moribundas, já não voltam,
Deste mundo estão distantes.


Alcina Moreira

segunda-feira, 25 de março de 2013

A dor do silêncio


“Queria falar! Poder dizer tudo, mas a minha solidão não permite. Porque ninguém quer ouvir essas lamentações vagas. Então eu ouço a minha voz me dizendo tudo e, o que sinto por dentro é indescritível. É a dor do silêncio que me obriga a sentir e ouvir as minhas mágoas. Essa voz que às vezes me arranca sorrisos, também derrama as minhas lágrimas. Esta voz, a minha voz que cala, mas não para dentro de mim. Eu tenho as perguntas e as respostas, mas queria gritar ao mundo o que sinto, porém  em quanto isso eu vou conversando comigo mesma. E vejo as horas passarem e adormeço em meio à dor. Eu não sei o que me dói mais. Serão os meus pensamentos ou  não poder dizê-los?”

Lúcia Alves

Dor e Silêncio



Prendi a minha dor em masmorras de silêncio,
Algemei-a, amordacei-a,
Temendo que um grito,
Um só grito,
Escapasse das feridas abertas,
Das nesgas estreitas,
Dos golpes em chagas.
Isolei-a com lágrimas
Que petrifiquei nos meus olhos
Em cristais de mudez.
Mas... ai de mim!,
O silêncio cresceu,
Emoldurou minha dor
Em auges de clamor.
Engrandeceu-lhe o fragor,
Fez sobressair os gemidos
Cegos,
Feridos,
Traídos,
Dilacerados,
Dos meus martírios...
Então...
Libertei os meus ais
E na mescla do Mundo
Os soltei, vagabundos,
Iguais,
A tantos outros, doloridos
Que tais...
E o eco finou-se,
Apagou-se,
Amortecido pelos gritos de gente
Que, como eu, sofre, indigente,
Em busca de Paz...
O silêncio não é a voz da dor,
Mas que a faz gritar mais alto...
Ah!... lá isso, faz!

Sterea

O Silêncio dos Adolescentes


 
Os pais desejam falar com os seus filhos adolescentes e saber o que pensam, sentem e fazem, mas os jovens não falam...Isto é normal?

"Às vezes sinto que falar com uma parede é mais fácil do que arrancar uma palavra ao meu filho", diz uma mãe, que logo acrescenta: "quando responde com monossílabos sinto que tivemos uma grande conversa".
Claramente, esta é a fase do silêncio. A nova forma de comunicar-se é o silêncio ou, no melhor dos casos, as frases entrecortadas. Alguns livram-se de cair nesta etapa, mas são muito poucos. Por isso, é normal encontrar tantos pais desesperados com a indolência dos seus filhos. Tomar consciência do que se trata e de por que acontece é uma boa ajuda, pois assim é possível aprender o lado positivo, que neste caso, não é pequeno.

Durante a infância as crianças estão completamente viradas para o mundo exterior, comunicam e recebem ordens sem problemas. Mas na puberdade, e fazendo isso parte de um processo absolutamente normal, começam a ter uma maior preocupação por outros aspectos de si mesmos. No início, isto toma a forma de introversão passiva, para ir progressivamente tornando-se ativa, e caracteriza-se por:
1. O jovem desvia o interesse do mundo exterior, para se concentrar cada vez mais em si próprio.
2. Procura diferenciar-se de todo o resto e, por esse motivo, rompe com a autoridade, tanto dos pais como dos professores. Procura autonomia, o que por vezes implica um período de crítica, e lhe faz perder, por exemplo, o interesse em participar nas atividades familiares.
3. Na parte final do conhecimento, cresce a fantasia, através da qual compensa as inseguranças que experimenta no mundo real. Por isso é tão difícil falar com ele: está no seu próprio mundo.
4. No campo das amizades, afasta-se dos grandes grupos e nasce a época do melhor amigo ou amigo íntimo, sem que esteja necessariamente excluída uma intensa vida social.

A conseqüência final: uma criança isolada que se torna calada e completamente egocêntrica. O objetivo: desligar-se de tudo o que é exterior para melhor conhecer a sua interioridade e se encontrar com a sua intimidade. Precisam de um certo isolamento para pensarem e refletirem acerca de quem são, das suas novas experiências e formas de sentir o mundo.

Há uma espécie de retiro e um abandonar-se a não fazer nada; podem passar um dia inteiro fechados. Quando crescem um pouco mais, o silêncio mantém-se, mas é acompanhado de uma procura de modelos com os quais se identificam, para criarem um ideal de si mesmos.

Em resumo, a filósofa Carolina Dell Oro explica que o adolescente se apercebe de que tem algo dentro de si, e quer desenvolvê-lo. É o momento em que algo nasce, e para se descobrir precisa estar só e calado.
Resgatando o silêncio

O que é mais normal com esta atitude é que os pais percam a paciência. Mas é importante que eles tomem consciência de que se trata de um processo de conhecimento. Assim, tendo em conta certos pontos, e sabendo quais são as consequências positivas, será mais fácil compreender os anos de introversão.

Para isso a psicóloga Beatriz Zegers, explica um importante ponto de partida: ''No mundo atual, as pessoas tornaram-se mais intolerantes perante os silêncios individuais. Vivemos num ambiente que é extremamente extrovertido: tudo se fala, tudo se diz e não se respeitam os momentos de silêncio, que são fundamentais para o desenvolvimento da intimidade''. Isto não significa que o adolescente corte a comunicação verbal para sempre e não tenha mais nada para contar: também há momentos em que se envolvem, e isto é normal, mas nesta fase são menos freqüentes.

E como o silêncio é o estado normal, um segundo ponto é que: "o estar calado é também uma forma de comunicação. Dão-se informações através das palavras, mas também através do silêncio, por isso, os adolescentes estão a dizer-nos alguma coisa. Nós, os pais, devemos desenvolver a habilidade de decifrar o que está acontecendo''. 

O silêncio normal nesta idade é o explicado anteriormente, quer dizer, que ele tem a ver com a procura da intimidade, é uma reflexão que se exprime com a tendência ao isolamento. Este silêncio, porém, é diferente do silêncio que é acompanhado de hostilidade, ou de problemas de relacionamento com os pais, ou de baixo rendimento escolar. ''Aqui o silêncio tem outro significado: é um problema que tem de ser solucionado''. Quanto mais áreas este silêncio comprometa, mais preocupante é. Se o silêncio é excessivo, pois provoca uma ruptura total com os outros, isso já é negativo.

Para uma vida melhor:

O silêncio reflexivo que acontece na fase da adolescência é fundamental. Beatriz Zegers afirma: ''Sem silêncio privamo-nos da possibilidade de nos ouvirmos a nós mesmos, perdemos a capacidade de desenvolver a contemplação e a meditação ''.

De fato, uma das características próprias do ser humano é a capacidade de entrar na sua própria intimidade e, segundo Carolina Dell Oro, é precisamente na adolescência que se amadurece e solidifica o mundo interior. '' A adolescência é o principio de um crescimento qualitativo, onde nasce a consciência da própria intimidade, que é fundamental para a revelação como pessoa''.

Portanto, há que deixar de pensar que esta é uma fase obscura e crítica. Pelo contrario, é o momento mais determinante da pessoa, pois é o momento no qual, em silêncio, o indivíduo examina toda a sua infância, descobre o mundo interior e prepara a sua idade adulta de maneira a saber agir no futuro, como alguém que pensa e não porque assim fazem todos.

Carolina acrescenta: '' Uma pessoa que tem um bom mundo interior age a partir de si mesmo, com menor perigo de se deixar levar por qualquer disparate. É uma criança que, sem duvida, terá uma vida melhor ''.
Como nos entendemos?

Por muito positivo que seja tudo o que surge do silêncio reflexivo, aos pais, no dia a dia, tanta impassibilidade pode pôr-lhes os cabelos em pé, sobretudo, se dão conta de que, apesar das maiores tentativas para falar com o ''semi-mudo'', não ouvem resposta nenhuma. Para não caírem em desespero e saberem como agir, Carolina Dell Oro dá algumas recomendações chave:
1. Conhecer o processo. A primeira das chaves é tomar consciência do processo que a criança está vivendo. "Ela está num momento de ajustes, está desconcertada, não se dirige, está lenta, e ter isso em conta é fundamental para não ser violento com ela e, pelo contrario, encher-se de paciência". Além disso, é importante compreender que a atividade exterior não é a única alternativa; a atividade interior também é fundamental.
2. Estar e acompanhar. Como ação concreta, o mais recomendado é a companhia. "Acompanhar e estar aí, junto deles, é a melhor forma de comunicação. Há que evitar cair na tentação de que: como não me fala deixo-o sozinho", afirma a filósofa, que acrescenta: "é um estar presente que não implica nem falar nem ralhar, mas apenas garantir que desses pensamentos que deslumbram o adolescente se obtenham bons resultados".
3. Saber esperar. A paciência vale ouro, porque para esses resultados há que esperar um pouco, respeitando o silêncio, evitando zangar-se por não haver resposta. "Tem que se ser delicado na relação com os filhos e não os aborrecermos com perguntas e com temas sem sentido. Isso não vai resultar. O melhor é criar situações de silêncio e de contato pessoal e direto, marcando sempre o limite do que é correto e permitido". Desta maneira, uma criança que sente que a respeitam, finalmente, no fim da sua adolescência, será, sem dúvida, capaz de exprimir os seus pensamentos e combinar muito bem as duas perspectivas humanas: a intimidade e a capacidade de agrupar-se com os outros.

Quando alarmar-se
1. quando o silêncio é acompanhado de manifesta agressividade;
2. quando a má relação com os pais e professores exigir outras causas que não simplesmente a adolescência;
3. quando existam suspeitas fundadas de que o filho não anda por bons caminhos;
4. quando existam quebras do rendimento escolar.

Guardar os limites
Se bem que a recomendação seja respeitar o silêncio dos adolescentes e permitir-lhes que desenvolvam um mundo próprio, para tudo há limites, e estes devem ser devidamente estabelecidos:
- Está bem que ouçam a sua música e que adorem estar enfiados nos fones do ''walkman'', mas isto não deve ser feito à hora da refeição.
- Que não se preocupem com os irmãos nas 24 horas do dia, é normal e aceitável, mas se por uma razão especial isso for necessário, devem estar dispostos a encarregarem-se deles.
- Se caminham pela rua arrastando os pés, de tal maneira que pareça que vão desmaiar, aceite, porque é possível que tenham tido uma importante atividade física, por exemplo, na escola.
- É normal que não lhe agrade ensinar matemática à irmã mais nova, mas que o faça sem problemas ao amigo. Não é preocupante. O mesmo se passa com as obras sociais: gosta de visitar asilos, mas não se dá conta de que em casa está alguém doente. Isso é normal e está dentro dos limites, mas também é superável.

Fonte: Encuentra.com 

Palavra e Silêncio



Não é dito na tradição cristã que a palavra seja o princípio, mas que ela está “no princípio” — e não no começo como algumas traduções inadequadas. “No princípio era a Palavra”. Ora o princípio, é o silêncio. É com efeito do silêncio – o Pai, ou ainda o Nada em certas tradições espirituais – que surge a Palavra. E logo, quando se rompe esta ligação entre silêncio e palavra – ao passo que a palavra é a encarnação, a revelação do silêncio – uma tal palavra não é mais portadora do que quer que seja, ela é vazia e mentirosa. Uma vida, é verdade, ou melhor “a” vida nos é dada para experimentar isso. A vida, “minha” vida, que não poderia se medir em tempo de relógio ou em tempo solar.

O silêncio autêntico, certamente, não é uma ausência de palavra. Mas a que tipo de palavra encontra-se ligado? Ao que as tradições judaica, hindu e greco-cristã chamam respectivamente dabar, vac, logos – dito de outra forma, em todos os casos, a palavra “primordial”.

“No princípio era a palavra”, está escrito na Índia cerca de sete ou oito séculos antes de São João. Não é portanto novo... No Talmude, quase na mesma época de João, chama-se esta palavra “memra”, a palavra autêntica, aquela que está mais longe de toda falação. Ora a palavra é autêntica quando procede do silêncio. Há esta colocação extraordinária de Irineu de Lião, no século II da era cristã: “Do silêncio do Pai surge a Palavra do  Filho”. A palavra surge do silêncio. A palavra e o silêncio são as duas faces do mistério trinitário. Há um adágio árabe que diz: “Se tuas palavras não valem mais que teu silêncio, cala-te”. Silêncio e palavra vão estritamente de par. O êxtase e do silêncio é a palavra.

Os textos do Aitareya Brahmana e de São João (No princípio er o Verbo), e ainda outros, como fiz lembrar, dizem bem: “No princípio era a palavra”; mas a Palavra não era “o” princípio. O princípio – é assim que se traduz In principio, o arche – é o silêncio. E do silêncio surge, aparece, se revela a palavra. O Pai é o silêncio, o Filho é a Palavra, o Logos. E toda palavra que não é prenhe de silêncio não é uma palavra. Já citei este texto tão forte do evangelho no qual nos será cobrada a razão de toda palavra leviana, inútil (Bons frutos)... O termo empregado é “anergon”, uma palavra que não tem energia, que não é sacramental, que não é causa do que diz. Mas disto perdemos o sentido. Toda palavra deve ser sacramento, deve causar o que exprime, na falta do que ela é destituída de força, sem eficiência.

Uma anedota da vida de Gandhi a ilustra maravilhosamente. Deve-se contextualizá-la nas condições do ashram onde ele vivia então. Uma das mulheres do ashram demanda um dia ao Mahatma Gandhi, em um sat-sang (uma reunião): “V. poderia fazer entender a minha filha que ela come muitos doces; eu a digo que vai estragar os dentes, mas ela não me escuta; se lhe disseres talvez ela leve em conta”. Gandhi elevou sobre ela um olhar de tristeza e nada disse. Esta mulher temeu ter dado um passo em falso, de falar o que não devia ser falado. Algumas semanas mais tarde, ele reencontrou Gandhi nos serviços do ashram e sentiu a necessidade de se desculpar junto a ele por tê-lo sem dúvida importunado. “Quando me demandastes de falar a tua filha, lhe respondeu Gandhi, eu também abusava dos doces; agora, estou disto curado. Traga-a e lhe direi que não deve comer muitos doces”.

Enquanto em si mesmo não se está encarnado no que se diz, as palavras não tem qualquer força. Todos os sermões do gênero “Sejam bons...”, são bla-bla-bla. Devo poder dominar eu mesmo a concupiscência  que experimento diante dos doces, antes de dizer que deles não se deve abusar. “Traga-a, lhe falarei e ela poderá obedecer”... Eis aí a força da palavra que sai de um silêncio prévio, matriz de toda palavra. É por isto que a palavra, quando é verdadeiramente palavra, é revelação. E é por isto que inversamente a prostituição da palavra é um dos pecados culturais maiores da humanidade.

Raimon Panikkar – Entre Deus e o Cosmos

Quebrando o Silêncio



Meu clamor não se corrompeu
Meu amor não diminuiu
Ele é o mesmo, sempre o mesmo
Será fiel até o fim
Meu clamor não se corrompeu
Meu amor não diminuiu
Ele é o mesmo, sempre o mesmo
Será fiel até o fim
Não vou me abalar
Se não me conformo
Não vou me calar
Se tudo o que eu tenho
É minha voz, vou gritar
Eu quebro o silêncio,
Quebro o silêncio por Ti

Meu grito é por compaixão
Eu canto a justiça de Deus
Eu choro a dor de um pai
Que perde um filho
Eu clamo a oração
Que rompe barreiras
Que vence o medo
Que passa o vale e
Chega até aos céus
E traz Teus milagres

Meu clamor não se corrompeu
Meu amor não diminuiu
Ele é o mesmo, sempre o mesmo
Será fiel até o fim
Não vou me abalar
Se não me conformo
Não vou me calar
Se tudo o que eu tenho
É minha voz, vou gritar
Eu quebro o silêncio,
Quebro o silêncio por Ti

Meu grito é por compaixão
Eu canto a justiça de Deus
Eu choro a dor de um pai
Que perde um filho
Eu clamo a oração
Que rompe barreiras
Que vence o medo
Que passa o vale e
Chega até aos céus
E traz Teus milagres
E traz Teus sinais

Compositor: Klênio 

Silêncio Insano



Uma das questões básicas, tidas como pilares da saúde mental é a existência, a necessidade da Comunicação, da Afetividade e do Relacionamento. Se falta um desses "pilares" então os outros deixam de existir.

Há um silêncio que representa uma quebra de comunicação, tendo por consequência a quebra de afetividade e relacionamento. Pode haver saúde mental sem afetividade, sem comunicação ou relacionamento com o próximo. Não é nenhuma novidade afirmar que a comunicação é essencial em todas as circunstâncias na vida de um ser humano. Parece tão simples ...

O Velho Guerreiro, Chacrinha já dizia: “quem não se comunica se trumbica”. Esse era um jargão usado pelo apresentador de TV dps anos 80, Abelardo Barbosa. Eu "brincava" com as palavras e dizia, que a gente quando criança não tinha disso não ... se estapeava, mordia, enfiava os dedos nos olhos, arrancava os cabelos do outro, mas no dia seguinte estávamos lá com a disposição de brincar de novo. Hoje estou de mal com você, dizíamos: se afasta de mim! Então havia uma quebra de comunicação, mas no instante seguinte ou nos próximos dias estávamos de novo de bem, brincando nos quintais ...

As pessoas cresceram e desaprenderam esse desprendimento infantil. Adquiriram a habilidade de guardam mágoas e têm dificuldades imensas em esquecer e perdoar. Então, o não fale mais comigo, que às vezes nem sequer é dito, provoca um rompimento que prossegue por muito tempo e pela vida afora, machucando, aumentando as distâncias ...

Essa seria uma das causas da insanidade, da infelicidade ... os espiritualistas dizem fazer parte dos planos do ego guardar mágoas e ver significado onde não existe.

Há pessoas que tem "crises de silencio" quando inesperadamente encontram consigo mesmas: o choque as emudece. É como um IMPRINT assim como aquela fala inaudível. Fala característica de quem não se aceita, de quem não conseguiu ainda engolir absolutamente nada da vida.

Quando eu me deparo com alguém falando sem fala (falando com expressões corporais, com olhares, com bocas retorcidas) dá vontade de pedir para  abrir a boca e soltar o que quer que seja audível, “vomitar” o que está lhe fazendo mal.

Obviamente essa atitude não é bem vinda em nossa sociedade. E aí a gente também se cala, também entra no silêncio, e esse, de desaprovação da atitude imatura do outro  - um cranco na personalidade.

O telefone que não toca dá a medida exata de quem é quem na vida de cada um, e do quanto à gente precisa ser íntegra para dar conta do nosso dia-a-dia.

Simples assim.

Silêncio e Oração



A tradição espiritual e ascética sempre reconheceu a essencialidade do silêncio para um verdadeiro caminho espiritual e de oração. “A oração tem como pai o silêncio e como mãe a solidão”, disse um grande homem espiritual. Só o silêncio, de fato, torna possível a escuta, isto é, o acolhimento em si não só da Palavra, mas também da presença daquele que fala. Assim, o silêncio abre o cristão à experiência da inabitação de Deus: o Deus que procuramos seguindo na fé Cristo ressuscitado, é o Deus que não é estranho a nós mas habita em nós. Diz Jesus no quarto Evangelho: “Se alguém me tem amor, há de guardar a minha palavra; e o meu Pai o amará, e nós viremos a ele e nele faremos morada” (Jo 14,23). O silêncio é linguagem de amor, de profundidade, de presença do outro.

Infelizmente, hoje o silêncio é raro, é a coisa que mais falta ao homem moderno, assoberbado por murmúrios, bombardeado por mensagens sonoras e visuais, derrubado da sua interioridade, quase caído longe dela.

É preciso confessar: temos necessidade do silêncio! Temos necessidade dele de um ponto de vista puramente antropológico, porque o homem, que é um ser de relação, comunica de modo equilibrado e significativo apenas graças à relação harmónica entre palavra e silêncio. Contudo, temos necessidade de silêncio também do ponto de vista espiritual, como alimento primário da nossa oração e da vida interior. Para o cristianismo o silêncio é uma dimensão não apenas antropológica, mas teológica: sozinho no monte Horeb, o profeta Elias ouviu primeiro um vento impetuoso, depois um terremoto, em seguida um fogo e por fim o “murmúrio de uma brisa suave” (1 Re 19,12). Ao ouvir esta última, Elias cobriu o rosto com um manto e colocou-se na presença de Deus. Deus torna-se presente a Elias no silêncio, um silêncio eloquente. A revelação do Deus bíblico não passa só pela palavra, mas acontece também no silêncio.

Inácio de Antioquia diz que Cristo é “a Palavra que procede do silêncio”. O Deus que se revela no silêncio e na palavra exige a escuta do homem e para a escuta é essencial o silêncio. Não se trata, por certo, de abster-se simplesmente de falar, mas do silêncio interior, aquela dimensão que nos devolve a nós próprios, que nos coloca sobre o plano do ser, diante do essencial. “No silêncio está inserido um maravilhoso poder de observação, de clarificação, de concentração sobre as coisas essenciais” (Dietrich Bonhoeffer). É do silêncio que pode nascer uma palavra aguda, penetrante, comunicativa, sensata, luminosa, ousaria mesmo dizer terapêutica, capaz de consolar. O silêncio é o guardião da interioridade.

É verdade que se trata de um silêncio definido tão negativamente como sobriedade e disciplina no falar, até chegar à abstenção das palavras, mas que passa deste primeiro momento para uma dimensão interior, isto é, o fazer calar os pensamentos, as imagens, as revoltas, os juízos, os murmúrios que nascem no coração.
De fato, é “do interior do coração dos homens que saem os maus pensamentos” (Mc 7,21). É difícil o silêncio interior, aquele que se joga no coração, lugar de luta espiritual, mas este silêncio profundo gera caridade, atenção, acolhimento, empatia diante do outro.

Sim, o silêncio escava no mais profundo de nós um espaço para fazer habitar o Outro, para deixar permanecer na sua Palavra, para radicar em nós o amor pelo Senhor; ao mesmo tempo, em ligação a isto, dispõe-nos à escuta inteligente, à palavra medida, ao discernimento do coração do outro, daquilo que o queima no seu íntimo e que está encerrado no silêncio do qual nascem as suas palavras. O silêncio, então aquele silêncio, suscita em nós a caridade, o amor pelo irmão e, por consequência, a capacidade de intercessão, de oração pelo outro, bem como a ação de graças pelo encontro que aconteceu. Assim o duplo mandamento do amor de Deus e do próximo é cumprido por quem sabe guardar o silêncio. Por isso, Basílio pôde dizer: “O silencioso torna-se fonte de graça para quem escuta”. Neste ponto, pode repetir-se, sem receio de cair em mera retórica, a afirmação de E. Rostand: “O silêncio é o canto mais perfeito, a oração mais alta”. Ao conduzir à escuta de Deus e ao amor pelo irmão, à caridade autêntica, isto é, à vida em Cristo (e não a um vazio interior genérico e estéril), o silêncio é oração verdadeiramente cristã e agradável a Deus. É este o silêncio que chega a nós de uma longa história espiritual, é o silêncio procurado e praticado pelos hesicastas para obter a unificação do coração, é o silêncio da tradição monástica finalizado no acolhimento em si da palavra de Deus, é o silêncio da oração de adoração da presença de Deus, é o silêncio caro aos místicos de qualquer tradição religiosa e, acima de tudo, é o silêncio do qual é rica a linguagem poética, é o silêncio que constitui a própria matéria da música, é o silêncio essencial a qualquer ato comunicativo.

O silêncio, acontecimento de profundidade e de unificação, torna eloquente o corpo, conduzindo-nos a habitar o nosso corpo, a habitar a nossa vida interior, guiando-nos ao habitare secum tão precioso para a tradição monástica. O corpo habitado pelo silêncio torna-se revelação da pessoa. O cristianismo contempla Jesus como Palavra feita carne, mas também como silêncio de Deus: os evangelhos mostram um Jesus que, quanto mais se adentra na paixão, cada vez mais se cala, entra no silêncio, como cordeiro sem voz, como aquele que, conhecendo a verdade, sabendo o indizível fundo da realidade, não pode nem quer trair o inefável com a palavra, mas guarda-o com o silêncio. Jesus que “não abre a sua boca” mostra o silêncio como aquilo que é verdadeiramente forte, faz do seu silêncio um ato, uma ação. E precisamente por isso poderá fazer também da sua morte um ato, um gesto de um vivente, para que seja claro que por trás da palavra e do silêncio, aquilo que é verdadeiramente salvífico é o amor que vivifica um e outro.

FONTE: Monastero di Bose-Italia
Fr. Enzo Bianchi - Prior da Comunidade Monástica de Bose

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Silencie



Não fale de suas angustias,
nem de suas tristezas
ou de suas inquietações.
O mundo não está preparado
para vê-lo e muito menos ouvi-lo.

Cale-se... Sorria...
Deixe parecer que está tudo bem,
que a dor não existe,
que o amor é tolice,
que sexo, cerveja e som
lhe é suficiente.

Silencie sobre
suas crenças, suas verdades
e seus anseios...
Tome um antidepressivo,
compre sapatos novos
e siga o seu caminho.

Heloisa Trad

O Real no Silêncio


Por que o tema "O silêncio"?



O provérbio popular chinês, "a palavra é prata, o silêncio é ouro", coloca para nós uma questão de valor. Nós estamos numa sociedade que não valora o silêncio. O som, o uso da fala é estimulado, valorado e admirado constantemente. O que dizer então do silêncio?

Ao pensarmos sobre o silêncio, abre-se um mundo de indagações. A problematização envolvida com a fala e com a audição, na grande maioria das vezes fica restrita à área da convivência social. Do ser agradável ou desagradável. Não aborda o corpo, a emoção, o sentimento, o pensamento, a mente, Deus... Não nos coloca questões do tipo:

Como lidar com o silêncio que angustia? E com a angústia que silencia? E o outro diante da palavra que se cala? E o silêncio que me é imposto? O som que não escuto? E o real mudo que não fala, que não significa? Como lidar com a eternidade do silêncio que nos cerca? Diante do Deus que se não ouço... porque não me calo?

Encontramos a diferença de posicionamento do homem ocidental e do homem oriental diante da vida. Descobrimos que o homem ocidental busca basicamente a satisfação de seu desejo. Para ele a riqueza é encontrada em seu exterior e a palavra é seu instrumento, instrumento de escavação. O homem oriental busca matar o desejo. Trabalha com o silêncio, uma vez que a riqueza é encontrada no interior do homem, no silêncio.

O tema silêncio nos remete ao mutismo – um silêncio patológico -, mas também à uma atitude de engrandecimento, de transcendência e de amor a Deus. No silêncio há uma linguagem que as palavras não conseguem exprimir todo o desejado e leva-nos a frustração do chocar-se contra os limites da linguagem e a redenção pelo silêncio. O silêncio também é linguagem, mas linguagem do espírito, e como diz H. Rohden, no silêncio a vacuidade do ego humano permite o surgimento da Teo-presença e da Teo-plenitude. Wittgenstein “chocou a comunidade filosófica de seu tempo ao produzir um discurso filosófico que procura reduzir a filosofia ao silêncio de uma forma tão radical que até mesmo o discurso que preconiza o silêncio é rejeitado no final”.

Para esse fazer-se silêncio ou esse fazer no silêncio a caminhada para o Pai, é preciso mais do que aprender sobre o silêncio, é preciso apreender o silêncio! As respostas sobre o silêncio vêm do próprio silêncio, em silêncio...

"A palavra é um método - o silência é a meta
A palavra é um início - o silêncio é um fim".

Eu Sou o Silêncio



Eu Sou o Silêncio...
Cale-se, aquiete-se
Dê um salto pela fé
se entregue
e se revele em mim...

Eu Sou o Silêncio...
onde você é o amor
se livra da dor
e é Quem Você É
tudo, o todo, o Senhor!

No silêncio
a expiação acontece
possibilitando a expansão
o encontro com a essência
o amor e a salvação

Eu Sou o Silêncio
prenhe de possibilidades
Eu Sou Você
a sua completeza
encontrada nessa oração...


Heloisa Trad

Harpocrates - Deus do Silêncio e a Rosa



Harpocrates é a contaparte de Ra-Hoor-Khuit. Enquanto seu irmão gêmeo representa o ativo, Harpocrates representa o feminino, o passivo. É concebido como uma criança nua, com o dedo indicador pousado sobre os lábios (ou chupando o dedo); muitas vezes também representado no colo de sua mãe, Isis. Concebido por magia sexual quando sua mãe copula com o falecido esposo, Osiris, Harpocrates nasce não como uma criança de carne mas como uma criança mágica, espiritual. Por isso recebe o título de "Não Nascido".

Representa o silêncio e sua Palavra é a Palavra do Eon, ABRAHADABRA, o fim de todas as palavras. É o Ponto-Zero, o estado de completa imobilidade, passividade e não identificação adotado pelo mago para sua fusão com o Todo.

Os Deuses Gregos e a Rosa

Afrodite deu uma rosa ao seu filho Eros, o Deus do amor. A rosa tornou-se um símbolo de amor e desejo. Eros deu a rosa a Harpocrates, o Deus do silêncio, para o induzir a não falar sobre as indiscrições amorosas de sua mãe. Assim, a rosa se tornou também um símbolo do silêncio e do segredo. N a Idade Média uma rosa era suspensa do teto da câmara municipal comprometendo todos os presentes ao silêncio. 

A Prece Silenciosa



A oração Silenciosa é um reconhecimento de Tudo O Que É.
Nesta oração eu sei que tudo que eu evoquei foi ouvido pelo espírito e que me foi dado tudo aquilo que pedi.
É um reconhecimento de que minha alma é completa no amor e na graça de Deus.
É um reconhecimento de meu total estado de perfeição e de Ser.
Tudo aquilo que desejo, tudo o que quero co-criar, já esta dentro de minha realidade.
Eu a chamo de Prece Silenciosa porque sei que meu ser já está realizado.
Não há necessidade de pedir nada ao espírito, porque tudo já lhe foi dado.

Em meu coração, eu aceito meu Ser Perfeito.
Eu aceito que a alegria que eu quis já esta em minha vida.
Eu aceito que o amor que rezei por ter já está dentro de mim.
Eu aceito que a paz que pedi já faz parte de minha realidade.
Eu aceito que a abundância que procurei já preenche minha vida.
Em minha verdade, eu aceito meu Ser Perfeito.
Eu assumo responsabilidade por minhas próprias criações,
E todas as coisas que estão dentro de minha vida.
Eu reconheço o poder do espírito que está dentro de mim,
E sei que todas as coisas são como devem ser.
Em minha sabedoria, eu aceito meu Ser Perfeito.
Minhas lições foram cuidadosamente escolhidas por mim mesmo,
E agora eu caminho por elas em completa experiência.
Meu caminho me leva em uma jornada sagrada com propósito divino.
Minhas experiências se tornam parte de tudo que há.
Em meu conhecimento, eu aceito meu Ser Perfeito.
Neste momento, eu me sento em minha cadeira de ouroE sei que sou um anjo de luz.
Eu olho sobre a bandeja dourada - o presente do espírito -
E sei que todos os meus desejos já foram realizados.
Em amor por mim mesmo, eu aceito meu Ser Perfeito.
Não faço julgamentos nem ponho fardos sobre mim mesmo.
Eu aceito que tudo em meu passado foi dado em amor.
Eu aceito que tudo neste momento vem do amor.
Eu aceito que tudo no meu futuro resultará sempre em amor maior.

Em meu ser, eu aceito minha perfeição.
E assim é.

Geoffrey Hoppe

O Silêncio e seu Significado nos Dicionários




“Silêncio S.m. (lat. silentium). Estado de uma pessoa que se abstém de falar: guardar silêncio. Ausência de ruído: o silêncio da noite. Sossego. Abstenção de publicar qualquer notícia ou fato: o silêncio dos jornais. Interrupção de correspondência epistolar: o silêncio de um amigo que está longe. Segredo. Omissão de uma explicação: aproveitar-se do silêncio da lei. Mús. O mesmo que “pausa”. Toque nos quartéis e conventos, depois do recolher. Silêncio profundo, silêncio absoluto. Fig. Estado de paz, de inação: o silêncio das paixões. Silêncio mortal, absoluto, completo. Impor silêncio, fazer calar. Reduzir ao silêncio, esgotar a alguém todos os argumentos da réplica. Passar em silêncio, não falar de, omitir. O silêncio da lei, diz-se dum caso que a lei não previu. “Silêncio!” Interj. para mandar calar. Prov. O silêncio é de ouro, em certos casos convém mais ocultar os pensamentos do que exteriorizá-los pela palavra. Loc.adv. “Em” ou “com silêncio”, sem falar, sem fazer ou sem ouvir ruído.” (Lello, p. 897/898)

“Silêncio. Do lat. silentium; ingl. silence; franc. silence; al. schweigen. S.m. 1. Estado de quem se cala. 2. Privação de falar. 3. Interrupção de correspondência epistolar. 4. Taciturnidade. 5. Interrupção de ruído; calada. 6. Sossego, calma, paz. 7. Sigilo, segredo. Interj. 8. Para mandar calar ou impor sossego.” (Ferreira, p. 1311).

“Silêncio. A atitude mística em face da inefabilidade do ser supremo (cfr., p.ex., BOAVENTURA, Itinerarium mentis in Deum, VII, 5). Segundo Jaspers, atitude em face do ser da Transcendência (Philosophie, III, pág. 223). Segundo Witgenstein, a atitude em face aos problemas da vida: ‘Deve-se calar sobre aquilo o que não se pode falar’ (Tractatus logico-philosophicus, 7).” (Abbagnano, p. 863).

O Silêncio e o Mutismo



“Mutismo. Do lat. mutus. ‘mudo’ + ismo. S.m. 1. Mudez. 2. Estado ou condição de mudo. 3. Fig. Silêncio, sossego.” (Ferreira, p. 964).

Do “Novo Dicionário Aurélio” vemos igualmente, que o mutismo é algo de que se padece, tendo também várias facetas. Mutismo é um silêncio negativo. O mutismo está relacionado com a pulsão de morte. Com a tendência fundamental de todo ser vivo a retornar ao estado anorgânico.
Sob o ponto de vista psicopatológico o mutismo é definido como ausência de linguagem oral, podendo ter origem e mecanismos os mais variados. O mutismo é caracterizado pelo silêncio mais ou menos obstinado. É a suspensão da comunicação verbal.

Essa ausência da linguagem falada, pode ter origem em mecanismos os mais variados, sendo característico de um quadro de doença mental. É uma atitude hostil para com o ambiente, atitude que demonstra a preferência de um doente por seu mundo interno imaginário, em face da realidade. Nos esquizofrênicos é uma representação de negativismo, ou antes, do autismo. Nos histéricos representaria a expressão física de um conflito psicológico.

Segundo o psiquiatra Henry Ey, temos o mutismo:

De protesto: caracterizado pelo silêncio mais ou menos obstinado. Há diversas variedades clínicas desta suspensão das comunicações verbais: o mutismo por inibição nos estados de estupor melancólico, o mutismo catatônico baseado na oposição e no negativismo, o mutismo dos estados confuso-demenciais por empobrecimento e por distúrbios da atividade psíquica, a afonia histérica por paralisia funcional da fonação por sugestão e, enfim, o mutismo de protesto dos delirantes perseguidos e reivindicadores. Às vezes trata-se apenas de um semimutismo ou de mussitação (poucas frases proferidas em voz baixa e de forma indistinta).

Melancólico: a linguagem fica bloqueada por inibição, as frases são raras e monossilábicas. Em geral o melancólico permanece bloqueado em um semimutismo e às vezes fica em mutismo completo.
Estuporoso: nas psicoses confusionais pode existir um mutismo total, devido a confusão mental.
Senil: nos estados demenciais avançados próprios da senilidade.

Gheerbrant Chevalier, nos faz uma distinção bem marcante entre o silêncio e o mutismo :

“O silêncio é o prelúdio de abertura à revelação, o mutismo o impedimento à revelação, seja pela recusa de recebê-la ou de transmiti-la, seja por castigo de tê-la misturado à confusão de gestos e das paixões.
O silêncio abre uma passagem, o mutismo a obstrui .
O silêncio envolve os grandes acontecimentos, o mutismo os oculta.
O silêncio dá às coisas grandeza e majestade, o mutismo as deprecia e degrada.
O silêncio marca um progresso, o mutismo uma regressão.
O silêncio, dizem as regras monásticas, é uma grande cerimônia. Deus chega à alma que faz reinar em si o silêncio, torna mudo aquele que se dissipa em tagarelice e não penetra naquele que se fecha e se bloqueia no mutismo.
O silêncio é pleno de potencialidades, o mutismo vazio de possibilidades.
O silêncio é carregado da presença do outro o mutismo é carregado de mal-estar, pesado, inamovível, como uma aproximação negativa.
O silêncio é uma propabilidade de ação, o mutismo de retenção, de posição vegetativa.”

A Grandeza do Silêncio


O Silêncio e o Sagrado




O silêncio é a manifestação do Sagrado
Que tudo revela sem nada dizer.
É a criação, o criador, a criatura e o criado...
É a transformação além do viver e do morrer.

Gassho Ricardo

A Voz do Silêncio



"Encontrei um poema com apenas dois versos que diz assim:

"Pior do que uma voz que cala - É um silêncio que fala".

Simples. Rápido. E quanta força.
Imediatamente me veio a cabeça situações em que o silêncio me disse verdades terríveis,
pois você sabe, o silêncio não é dado a amenidades
Um telefone mudo. Um e-mail que não chega.
Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca. Silêncios que falam sobre desinteresse,
esquecimento, recusas. Quantas coisas são ditas
Na quietude, depois de uma discussão.
O perdão não vem, nem um beijo, nem uma gargalhada para acabar
Com o clima de tensão. Só ele permanece imutável, o silêncio a
Ante-sala do fim.
É mil vezes preferível uma voz que diga coisas que a gente não quer ouvir, pois ao menos
as palavras que são ditas indicam uma tentativa
De entendimento.
Cordas vocais em funcionamentos articulam argumentos expõem suas queixas, jogam
limpo. Já o silêncio arquiteta planos que não são compartilhados.
Quando nada é dito, nada fica combinado.
Quantas vezes, numa discussão histérica, ouvimos um dos dois gritar:
"Diz alguma coisa! Diz que não me ama mais, mas não fica aí parado me olhando...
É o silêncio de um, mandando más notícias
Para o desespero do outro.
É claro que há muitas situações em que o silêncio é bem-vindo.
Para um cara que trabalha com uma britadeira na rua, o silêncio é um bálsamo. Para a
professora de uma creche, o silêncio é um presente.
Para os seguranças dos shows do Sepultura, o silêncio é uma
Megasena. Mesmo no amor, quando a relação é sólida e madura
O silêncio a dois não incomoda, pois é o silêncio da paz.
O único silêncio que perturba é aquele que fala.
E fala alto.
É quando ninguém bate a nossa porta, não há recados na secretária eletrônica e mesmo
assim você entende a mensagem".

Maktub

O Verbo e o Silêncio



Não criamos as palavras.
O Verbo é que, em nós,
se fez palavra.
A palavra humana
deriva do Verbo divino
e toca o silêncio das coisas,
mudas porque disseram tudo.
E, porque disseram tudo
são perfeitas
no seu recorte definido.
A voz
só existe nos seres indefinidos
ou que têm ainda que dizer.
Mas a palavra
entra no silêncio das coisas
e torna-se mais profunda.
Participa do silêncio, que a gravida,
e do Verbo, que a ilumina.

Teixeira de Pascoaes, O Grito que Deus deu.