Os pais desejam falar com os seus filhos adolescentes e
saber o que pensam, sentem e fazem, mas os jovens não falam...Isto é normal?
"Às vezes sinto que falar com uma parede é mais fácil
do que arrancar uma palavra ao meu filho", diz uma mãe, que logo acrescenta:
"quando responde com monossílabos sinto que tivemos uma grande
conversa".
Claramente, esta é a fase do silêncio. A nova forma de
comunicar-se é o silêncio ou, no melhor dos casos, as frases entrecortadas.
Alguns livram-se de cair nesta etapa, mas são muito poucos. Por isso, é normal
encontrar tantos pais desesperados com a indolência dos seus filhos. Tomar
consciência do que se trata e de por que acontece é uma boa ajuda, pois assim é
possível aprender o lado positivo, que neste caso, não é pequeno.
Durante a infância as crianças estão completamente viradas
para o mundo exterior, comunicam e recebem ordens sem problemas. Mas na
puberdade, e fazendo isso parte de um processo absolutamente normal, começam a
ter uma maior preocupação por outros aspectos de si mesmos. No início, isto
toma a forma de introversão passiva, para ir progressivamente tornando-se
ativa, e caracteriza-se por:
1. O jovem desvia o interesse do mundo exterior, para se
concentrar cada vez mais em si próprio.
2. Procura diferenciar-se de todo o resto e, por esse motivo, rompe com a autoridade, tanto dos pais como dos professores. Procura autonomia, o que por vezes implica um período de crítica, e lhe faz perder, por exemplo, o interesse em participar nas atividades familiares.
3. Na parte final do conhecimento, cresce a fantasia, através da qual compensa as inseguranças que experimenta no mundo real. Por isso é tão difícil falar com ele: está no seu próprio mundo.
4. No campo das amizades, afasta-se dos grandes grupos e nasce a época do melhor amigo ou amigo íntimo, sem que esteja necessariamente excluída uma intensa vida social.
2. Procura diferenciar-se de todo o resto e, por esse motivo, rompe com a autoridade, tanto dos pais como dos professores. Procura autonomia, o que por vezes implica um período de crítica, e lhe faz perder, por exemplo, o interesse em participar nas atividades familiares.
3. Na parte final do conhecimento, cresce a fantasia, através da qual compensa as inseguranças que experimenta no mundo real. Por isso é tão difícil falar com ele: está no seu próprio mundo.
4. No campo das amizades, afasta-se dos grandes grupos e nasce a época do melhor amigo ou amigo íntimo, sem que esteja necessariamente excluída uma intensa vida social.
A conseqüência final: uma criança isolada que se torna
calada e completamente egocêntrica. O objetivo: desligar-se de tudo o que é
exterior para melhor conhecer a sua interioridade e se encontrar com a sua
intimidade. Precisam de um certo isolamento para pensarem e refletirem acerca
de quem são, das suas novas experiências e formas de sentir o mundo.
Há uma espécie de retiro e um abandonar-se a não fazer nada;
podem passar um dia inteiro fechados. Quando crescem um pouco mais, o silêncio
mantém-se, mas é acompanhado de uma procura de modelos com os quais se
identificam, para criarem um ideal de si mesmos.
Em resumo, a filósofa Carolina Dell Oro explica que o adolescente
se apercebe de que tem algo dentro de si, e quer desenvolvê-lo. É o momento em
que algo nasce, e para se descobrir precisa estar só e calado.
Resgatando o silêncio
O que é mais normal com esta atitude é que os pais percam a
paciência. Mas é importante que eles tomem consciência de que se trata de um
processo de conhecimento. Assim, tendo em conta certos pontos, e sabendo quais
são as consequências positivas, será mais fácil compreender os anos de
introversão.
Para isso a psicóloga Beatriz Zegers, explica um importante
ponto de partida: ''No mundo atual, as pessoas tornaram-se mais intolerantes
perante os silêncios individuais. Vivemos num ambiente que é extremamente
extrovertido: tudo se fala, tudo se diz e não se respeitam os momentos de
silêncio, que são fundamentais para o desenvolvimento da intimidade''. Isto não
significa que o adolescente corte a comunicação verbal para sempre e não tenha
mais nada para contar: também há momentos em que se envolvem, e isto é normal,
mas nesta fase são menos freqüentes.
E como o silêncio é o estado normal, um segundo ponto é que:
"o estar calado é também uma forma de comunicação. Dão-se informações
através das palavras, mas também através do silêncio, por isso, os adolescentes
estão a dizer-nos alguma coisa. Nós, os pais, devemos desenvolver a habilidade
de decifrar o que está acontecendo''.
O silêncio normal nesta idade é o explicado anteriormente, quer dizer, que ele tem a ver com a procura da intimidade, é uma reflexão que se exprime com a tendência ao isolamento. Este silêncio, porém, é diferente do silêncio que é acompanhado de hostilidade, ou de problemas de relacionamento com os pais, ou de baixo rendimento escolar. ''Aqui o silêncio tem outro significado: é um problema que tem de ser solucionado''. Quanto mais áreas este silêncio comprometa, mais preocupante é. Se o silêncio é excessivo, pois provoca uma ruptura total com os outros, isso já é negativo.
Para uma vida melhor:
O silêncio reflexivo que acontece na fase da adolescência é
fundamental. Beatriz Zegers afirma: ''Sem silêncio privamo-nos da possibilidade
de nos ouvirmos a nós mesmos, perdemos a capacidade de desenvolver a
contemplação e a meditação ''.
De fato, uma das características próprias do ser humano é a
capacidade de entrar na sua própria intimidade e, segundo Carolina Dell Oro, é
precisamente na adolescência que se amadurece e solidifica o mundo interior. ''
A adolescência é o principio de um crescimento qualitativo, onde nasce a
consciência da própria intimidade, que é fundamental para a revelação como
pessoa''.
Portanto, há que deixar de pensar que esta é uma fase
obscura e crítica. Pelo contrario, é o momento mais determinante da pessoa,
pois é o momento no qual, em silêncio, o indivíduo examina toda a sua infância,
descobre o mundo interior e prepara a sua idade adulta de maneira a saber agir
no futuro, como alguém que pensa e não porque assim fazem todos.
Carolina acrescenta: '' Uma pessoa que tem um bom mundo
interior age a partir de si mesmo, com menor perigo de se deixar levar por
qualquer disparate. É uma criança que, sem duvida, terá uma vida melhor ''.
Como nos entendemos?
Por muito positivo que seja tudo o que surge do silêncio
reflexivo, aos pais, no dia a dia, tanta impassibilidade pode pôr-lhes os
cabelos em pé, sobretudo, se dão conta de que, apesar das maiores tentativas
para falar com o ''semi-mudo'', não ouvem resposta nenhuma. Para não caírem em
desespero e saberem como agir, Carolina Dell Oro dá algumas recomendações
chave:
1. Conhecer o processo. A primeira das chaves é tomar
consciência do processo que a criança está vivendo. "Ela está num momento
de ajustes, está desconcertada, não se dirige, está lenta, e ter isso em conta
é fundamental para não ser violento com ela e, pelo contrario, encher-se de
paciência". Além disso, é importante compreender que a atividade exterior
não é a única alternativa; a atividade interior também é fundamental.
2. Estar e acompanhar. Como ação concreta, o mais
recomendado é a companhia. "Acompanhar e estar aí, junto deles, é a melhor
forma de comunicação. Há que evitar cair na tentação de que: como não me fala
deixo-o sozinho", afirma a filósofa, que acrescenta: "é um estar
presente que não implica nem falar nem ralhar, mas apenas garantir que desses
pensamentos que deslumbram o adolescente se obtenham bons resultados".
3. Saber esperar. A paciência vale ouro, porque para esses
resultados há que esperar um pouco, respeitando o silêncio, evitando zangar-se
por não haver resposta. "Tem que se ser delicado na relação com os filhos
e não os aborrecermos com perguntas e com temas sem sentido. Isso não vai
resultar. O melhor é criar situações de silêncio e de contato pessoal e direto,
marcando sempre o limite do que é correto e permitido". Desta maneira, uma
criança que sente que a respeitam, finalmente, no fim da sua adolescência,
será, sem dúvida, capaz de exprimir os seus pensamentos e combinar muito bem as
duas perspectivas humanas: a intimidade e a capacidade de agrupar-se com os
outros.
Quando alarmar-se
1. quando o silêncio é acompanhado de manifesta
agressividade;
2. quando a má relação com os pais e professores exigir outras causas que não simplesmente a adolescência;
3. quando existam suspeitas fundadas de que o filho não anda por bons caminhos;
4. quando existam quebras do rendimento escolar.
2. quando a má relação com os pais e professores exigir outras causas que não simplesmente a adolescência;
3. quando existam suspeitas fundadas de que o filho não anda por bons caminhos;
4. quando existam quebras do rendimento escolar.
Guardar os limites
Se bem que a recomendação seja respeitar o silêncio dos
adolescentes e permitir-lhes que desenvolvam um mundo próprio, para tudo há
limites, e estes devem ser devidamente estabelecidos:
- Está bem que ouçam a sua música e que adorem estar
enfiados nos fones do ''walkman'', mas isto não deve ser feito à hora da
refeição.
- Que não se preocupem com os irmãos nas 24 horas do dia, é normal e aceitável, mas se por uma razão especial isso for necessário, devem estar dispostos a encarregarem-se deles.
- Se caminham pela rua arrastando os pés, de tal maneira que pareça que vão desmaiar, aceite, porque é possível que tenham tido uma importante atividade física, por exemplo, na escola.
- É normal que não lhe agrade ensinar matemática à irmã mais nova, mas que o faça sem problemas ao amigo. Não é preocupante. O mesmo se passa com as obras sociais: gosta de visitar asilos, mas não se dá conta de que em casa está alguém doente. Isso é normal e está dentro dos limites, mas também é superável.
- Que não se preocupem com os irmãos nas 24 horas do dia, é normal e aceitável, mas se por uma razão especial isso for necessário, devem estar dispostos a encarregarem-se deles.
- Se caminham pela rua arrastando os pés, de tal maneira que pareça que vão desmaiar, aceite, porque é possível que tenham tido uma importante atividade física, por exemplo, na escola.
- É normal que não lhe agrade ensinar matemática à irmã mais nova, mas que o faça sem problemas ao amigo. Não é preocupante. O mesmo se passa com as obras sociais: gosta de visitar asilos, mas não se dá conta de que em casa está alguém doente. Isso é normal e está dentro dos limites, mas também é superável.
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